Publicado originalmente no Brasil de Fato Paraná
Por Lia Bianchini
A partir de sugestão de movimentos populares, surgiu a ideia de criar uma plataforma que relacionasse as populações vulneráveis e as ações de solidariedade que estão sendo feitas durante a atual pandemia. A ideia tomou forma com apoio de um núcleo de extensão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e assim nasceu o Mapa da Solidariedade.
“O mapa, hoje, mostra pra gente que a periferia de Curitiba e Região Metropolitana é grande e está em áreas que já tinham vulnerabilidades. Agora, essas são as comunidades mais vulneráveis porque falta estrutura”, diz Vanda de Assis, assistente social e membro do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria), uma das entidades participantes.
O Mapa da Solidariedade, feito por estudantes e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, integra a plataforma virtual Paraná Contra a Covid-19, tocada por entidades da sociedade civil. Além do Mapa, a plataforma reúne conteúdo técnico, como
painel dos casos e mapa de setores de risco.
Simone Polli, professora da graduação em Arquitetura e Urbanismo e do programa de mestrado e doutorado em Planejamento e Governança Pública da UTFPR, coordena a ação de extensão universitária que elaborou o Mapa. Para ela, a iniciativa reforça a importância da universidade pública neste período. “A universidade não para. Nós temos muitos projetos de extensão a serviço da sociedade, principalmente das pessoas mais vulneráveis. Com o mapa temos uma visão do conjunto das necessidades, mostrando, além da solidariedade, a necessidade de políticas públicas para enfrentar esse problema”, afirma.
Atualmente, o mapa reúne mais de 100 ações de solidariedade. A plataforma é colaborativa e tem atualização permanente, as entidades podem entrar em contato e se cadastrar. Ao acessar, há informações sobre a entidade que está realizando, qual é o objetivo, o público- alvo, como ajudar e indicações de contato.
Pressionar o poder público
Os movimentos populares estão em campanha constante de arrecadação e entrega de doações às populações mais vulneráveis em Curitiba e na Região Metropolitana desde o início da pandemia de coronavírus. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, doou mais de 90 toneladas de alimentos em todo o Paraná. Desde o final de abril, o MST também se somou à campanha do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) e do projeto Mãos Invisíveis para produção de marmitas para a população em situação de rua.
O Cefuria tem atuado principalmente com trabalhadores da reciclagem. A entidade está em campanha de arrecadação e já contribuiu com a entrega de mais de 600 cestas básicas. A campanha 1 milhão de 1 real, iniciada no começo de abril, já doou 470 cestas básicas, sendo 170 de produtos agroecológicos. Neste primeiro mês, a campanha já arrecadou R$ 32 mil, que estão sendo transformados em alimentos e produtos de higiene.
Membros do MST distribuem quentinhas no centro de Curitiba durante a pandemia de Covid-19 / Giorgia Prates
Atuando nas campanhas do Cefuria desde o início da pandemia, Vanda de Assis conta que a dificuldade de muitas famílias é constante. “Em todas as comunidades que a gente foi, a demanda era real. Não era só questão de uma cesta básica, é mais. Quando chega uma cesta básica, já faltou o gás. Quando chega o gás, já faltou o leite, é uma necessidade grande”, diz.
Segundo pesquisa da urbanista Madianita Silva, na metrópole de Curitiba, no final da década de 2010, existiam 984 assentamentos e 98.444 domicílios em espaços informais de moradia, sendo 72% desses espaços formados por favelas.
Na análise de Vanda, é preciso que as prefeituras cumpram seu papel e garantam os direitos básicos dessas milhares de pessoas. Para ela, as campanhas dos movimentos populares servem também para tornar visíveis as demandas que o poder público tem ignorado. “Agora é hora de unir essa experiência nossa [dos movimentos populares] de conhecer a demanda da população com a pressão e a exigência para que os governos cumpram programas que atendam a demanda gerada a partir da pandemia”, afirma.