Tendo como tema “No Diálogo dos Direitos”, começou na manhã desta sexta-feira, dia 27, a II Conferência Municipal de Economia Popular de Curitiba. O evento, que conta com a participação de mais de cem representantes de empreendimentos solidários e do poder público, irá debater em dois dias as políticas públicas em Economia Solidária para a cidade.
Logo após a abertura das atividades e a aprovação do regimento teve início uma palestra, que contou com a presença de Beatriz Caetana da Silva, doutoranda em sociologia da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e integrante do Grupo de Estudos sobre Economia Solidária/CES, e de Marilene Zazula, professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e coordenadora da Incubadora de Economia Solidária (Tecsol). Marilene também faz parte do Conselho Consultivo do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araujo – Cefuria.
Beatriz abordou o tema “A Economia Solidária em Portugal e no contexto europeu: algumas considerações e práticas comunitárias”, destacando que este campo é recente em Portugal e vem ganhando maior relevância nos últimos dez anos. No continente europeu, segundo ela, o conceito de economia social possui uma trajetória mais antiga que a economia solidária. Sua história tem início no século XIX, a partir das associações e cooperativas de base popular. A economia social passou a ter reconhecimento institucional no continente a partir de 1989, a partir de um comunicado da Comissão Europeia fazendo referência a “as empresas da economia social e a realização de um mercado europeu sem fronteiras”. Beatriz também destacou a aprovação de leis e o sistema de financiamento público, além de apontar alguns indicadores, como a existência de 13,6 milhões de empregos remunerados e mais de 2,8 milhões de entidades e empresas.
A ideia de reunir os dois conceitos em uma Economia Social e Solidária foi debatida durante o I Fórum Europeu de Economia Social e Solidária, realizado em 2016. No entanto, Beatriz ressalta que os dois conceitos são diferentes e que é necessário defender a bandeira da Economia Solidária.
“Ideia de uma sociedade de iguais”, “maneira de organizar atividades econômicas” e “todos são simultaneamente donos e trabalhadores do empreendimento”. Estes conceitos de Economia Solidária apareceram em falas de Paul Singer, em vídeo exibido pela professora Marilene no início de sua exposição. Ela destacou fatos marcantes antes de 2003, como a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), e antes disso, em 1970, durante a crise do Petróleo, com o surgimento de alternativas de geração de emprego e renda. A professora também destacou avanços e retrocessos nas políticas públicas de Economia Solidária no país. Dentre os retrocessos estão o rebaixamento da Senaes ao status de subsecretaria e o desmantelamento de políticas públicas.
Marilene destacou, ainda, que mais de 1,4 milhões de trabalhadoras e trabalhadores da Economia Solidária estão cadastrados no Brasil (CADSOL). No Paraná o número é de 120.000. Em Curitiba, 122 empreendimentos têm cadastro. Também fez questão de enfatizar a resistência do Movimento da Economia Solidária frente aos retrocessos, citando como exemplo a Rede Fermento na Massa de Padarias e Cozinhas Comunitárias. “É preciso manter a esperança e a resistência”, finalizou Marilene.
O Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo – CEFURIA está sendo representado na Conferência por Vanda de Assis, como delegada titular, e Lourdes Marchi, delegada suplente. O encontro termina neste sábado, com a plenária para apreciação das propostas dos grupos e a eleição de representantes da Sociedade Civil para o Conselho Municipal de Economia Popular Solidária, biênio 2018-2020.