Paraná recebe 3 mil pessoas na Jornada de Agroecologia

Conhecido como estado forte no agronegócio, o Paraná é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do Brasil.

Escola Latino Americana__Foto_ELAACerca de 30 cozinhas comunitárias, cinco toneladas de alimentos e muito trabalho conjunto vão garantir as refeições gratuitas aos participantes durante os quatro dias. 

Por Ednubia Ghisi, Brasil de Fato 

O Parque de Exposições e Eventos da Lapa, município da Região Metropolitana de Curitiba, receberá 3 mil participantes na 15ª Jornada de Agroecologia do Paraná. O evento começa nesta quarta-feira (27) e vai até sábado, com presença de caravanas vindas de 200 municípios do estado e das cinco regiões no Brasil. Representantes de 10 países, entre eles Itália, Venezuela, Paraguai e República Dominicana, também estarão presentes. A maior parte do público será composta por pequenos agricultores, assentados e acampados do Paraná.

Cerca de 30 cozinhas comunitárias, cinco toneladas de alimentos e muito trabalho conjunto vão garantir as refeições gratuitas aos participantes durante os quatro dias. A programação prevê palestras, feira de produtos agroecológicos e da reforma agrária, cerca de 40 oficinas práticas, trocas de experiências e de sementes, além de atividades culturais.

A Jornada é organizada anualmente, desde 2002, por mais de 40 movimentos e entidades do Paraná – a maioria ligada ao campo. Ceres Hadich, integrante da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, explica que os encontros são “grandes escolas populares” para os camponeses, com o objetivo de multiplicar a agroecologia como modelo alternativo à monocultura e ao uso de agrotóxicos.

Segundo a integrante do MST, diferente do latifúndio e da monocultura, a agroecologia tem como princípio a humanização e o caráter popular, por ser mais acessível e respeitar o conhecimento tradicional, agregando outros conceitos e tecnologias. Somado a isso, Ceres Hadich reforça o aspecto do respeito à natureza, aos recursos naturais e aos seres humanos, com o olhar para as gerações atuais e futuras. “É mais do que substituição de insumo ou de técnica, é parte de uma postura perante a vida. Para além da produção de alimentos saudáveis, queremos produzir outra forma de vida”, afirma a integrante do MST.

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Agrotóxicos na alimentação

A agroecologia tem como um dos princípios o cultivo de alimentos sem agrotóxicos e a partir de sementes tradicionais ou crioulas. A opção busca melhores condições de saúde para produtores e consumidores, e não poluição do meio ambiente. A contaminação dos alimentos por agrotóxicos é uma realidade confirmada por um Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), divulgado em 2015. Segundo a pesquisa, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos, e 28% desses alimentos contém substâncias não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os impactos do consumo cotidiano de alimentos contaminados ainda não são mensurados de maneira completa, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que os agrotóxicos causam 70 mil intoxicações agudas e crônicas por ano.

O Paraná é conhecido como estado forte no agronegócio, fato que o coloca na posição de terceiro maior consumidor de agrotóxicos do país. A cada ano, cerca de 96,1 milhões de quilos de agrotóxicos são utilizados no estado, de acordo com dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), de 2013. O valor representa mais de 9 quilos por hectare de área plantada, e significa aumento de 20% no volume total de agrotóxicos comercializados no Paraná em 2008.

Segundo a pesquisa, o maior volume de veneno é usado na região da Bacia do Piquiri – 19,3 milhões de quilos por ano. Nesta área há predomínio do monocultivo transgênico de soja e milho. Quanto maior a propriedade, maior a quantidade de agrotóxico: em 80% dos latifúndios agrícolas – com mais de 100 hectares – foi verificado o uso de agrotóxico. Já nas propriedades médias, entre 10 e 100 hectares, o percentual de agrotóxico é de 36%. Nas propriedades com até 10 hectares, o número reduz para 27%.

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