Cerca de 50 pessoas participaram do Clubão de Trocas, realizado em Curitiba no dia 7 de novembro. A economia solidária e o meio ambiente foram conceitos trabalhados entre grupos, que trouxeram explanações e partilhando entre todos as reflexões acerca de suas vivências.
Texto e fotos: Ana Luiza Cordeiro (estagiária)
Edição e supervisão: Ednubia Ghisi (jornalista)
Os balões coloridos caem entre as mãos infantis. Em meio a risos e brincadeiras, os futuros se espelham nos olhares de quem aqui também se constrói. Como as bexigas que pairam e flanam doces pelo ar, a troca social que marcou o Clubão de Trocas, no último dia 7 de novembro, inspira e emociona quem compartilha mais do que os produtos, compartilha experiências, histórias, pessoalidades. A 8ª edição do Clubão de Trocas ocorreu na Rede Marista de Solidariedade, no bairro Fazendinha, e contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas.
Os clubes proporcionam mais do que a troca entre produtos consumíveis. Além da valorização da sustentabilidade, já que incentiva o consumo consciente, troca-se o valor da experiência, tida a história e afeto embutidos no produto. Os cuidados e afeições presentes são o grande valor, que constroem um objeto único, e faz da troca um momento de extrema significação. Constrói amizades, ainda que, às vezes, sequer se saiba quem recebe o presente.
Aos poucos mulheres, homens e crianças vão chegando, trazendo nas mãos mais do que produtos a serem trocados. Trazem emoções, risos, entusiasmo. Trazem a vontade de integrar a história de um projeto e de várias vidas. Para Lourença Santiago, do Incubadora Trilhas Social Marista/PUC, “cada momento é de aprendizado. É isso que a gente quer valorizar aqui hoje. A economia solidária é auto gestão, cada um contribuindo para que o encontro aconteça. Para o capitalismo o que vale é o lucro. Para nós, o que vale é a pessoa”.
E se cada momento é aprendizado, como não ensinar também? O evento, que começou com um café da manhã, traz na essência a partilha. São mesas que reúnem e aproximam pessoas. O café quente, o pão. Mais do que isso, o afeto, o riso, o encontro de quem já se viu no projeto. Ou de quem chega pela primeira vez.
Em Curitiba, os Clubes de de Trocas teviveram início de 2001, no bairro Sítio Cercado. E desde então uma caminhada de encantos e desafios se traçou. Não apenas para construir um ambiente de socialização, os clubes retomam valores do consumo, da solidariedade, da moeda social.
Hoje, promovido pela Rede Pinhão de Clubes de Troca, que atualmente é formada por cinco coletivos: Amizade, São Tiago, Estrela da Amanhã, Nova Semente e Novo Amanhã, dos municípios de Colombo e Almirante Tamandaré, e apoiado pelas entidades Cefuria, Guay, Rede Marista de Solidariedade e Incubadora Trilhas.
“Pensar o futuro mais equilibrado, onde os quatro elementos estejam em comunhão” diz Fábio, da Trilhas, sobre a necessidade de mudar a lógica em que vivemos. E num ato integrador, Fábio apresenta numa analogia encantadora os guardiões da vida: terra, fogo, ar e terra. Elementos básicos para construir o futuro de modo harmônico, sustentável, íntimo e, ao mesmo tempo, coletivo.
Sustentabilidade e economia solidária
Procurando uma comunicação mais integradora e atrativa, vídeos mostraram a relação social do capitalismo. A construção de uma sociedade mais equilibrada, igualitária e justa parte do princípio de uma partilha de bens tangíveis e também não tangíveis, de conhecimento, experiências, habilidades.
A economia solidária e o meio ambiente foram conceitos trabalhados entre grupos, que trouxeram explanações e partilhando entre todos as reflexões acerca de suas vivências.
Entre relatos um pouco tímidos e bons exemplos, a sustentabilidade ganhou voz entre os grupos. Temas como reciclagem e destino correto de descartáveis entraram em debate, e as rodas de conversa caminharam entre experiências e vivências, histórias calmas, bons exemplos e palavras doces. Palavras. Cada timbre, cada frase concluída é carregada de emoção, seja por partilhar intimidades, seja por perceber-se contribuindo por um futuro melhor, assim como Terezinha, de Almirante Tamandaré: “é a primeira vez que eu venho no clube de trocas. Nunca mais deixo cortar a árvore, faz sombra, né? Tudo que é tipo de remédio eu tenho plantado, tudo que planta lá dá”. A manhã rendeu bons risos. Boas conversas.
As atividades da tarde se inciaram com uma ciranda. Um ato bastante simbólico que, mais do que uma dança, gera uma corrente. Mãos dadas e os passos ritmados representaram de modo sutil o lema o evento, Cuidar da vida é nossa missão. Emanado e sentido pelos que presenciaram e ajudaram a construir o ato, cuidar da vida é como de cuidar de si e do outro. Dos outros. De dezenas de outros.
Antes a ciranda. Depois a troca. A construção do encanto, do subjetivo, do místico. O amadurecimento do sentimento. Principalmente produtos artesanais, com lenços, quadros, panos de prato, foram itens trocados. E as criança também tiveram vez, trocando e compartilhando ursinhos de pelúcia e bonecos.
Antes uma dança, de mãos dadas. Depois a doação. O ato. O recebimento. Depois os abraços agradecidos pelo que se recebe. Antes pessoas ainda tímidas com a coreografia. Depois os sorrisos acalorados e a consumação do dar afeto.
Parece simples. E é. Ainda que extremamente complexo.
Dona Adair Correia de Pontes, do Clube de Trocas Amizade, da Rede Pinhão, nem se lembra ao certo há quanto tempo frequenta os clubes de troca. Entre aprendizados, artesanato, incontáveis amigos que cultivou nesse tempo, trouxe a amiga Tereza. “Faz muito tempo que eu participo, nem me lembro. Pra mim significa muita coisa, na verdade significa tudo. Me faz tão bem que eu trouxe ela”. E Dona Adair ri ao abraçar a amiga, num gesto de agradecimento e aconchego que apenas quem divide a alegria pode ter.